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O que acontece com os cromossomos durante o aparecimento de uma nova espécie? Este é um dos grandes questionamentos que temos. Toda espécie possui um conjunto cromossomômico característico. Este conjunto varia entre as espécies quanto ao número, tamanho e forma - o que na citogenética chamamos de cariótipo. O cariótipo é como uma espécie de impressão digital, onde cada espécie possui a sua. Entretanto, algumas espécies podem ter os cariótipos muito semelhantes - mas não identicos - onde é muito difícil observar diferenças. Muitas vezes cariótipos muito semelhantes podem ser diferenciados por ferramentas de citogenética, tais como bandamentos cromossômicos e hibridação molecular in situ fluorescente (FISH), que permitem uma diferenciação linear dos cromossomos, de tal sorte que podemos encontrar diferenças entre espécies com cariótipos muito semelhantes. Normalmente na diferenciação linear dos cromossomos o que observamos são seqüências repetitivas, na maioria das vezes associadas as heterocromatinas. Estas seqüências repetitivas apresentam famílias, classes e tipos diferentes, que podem estar presentes ou não em uma determinada espécie, e ainda se duas espécies compartilham das mesmas seqüências, estas ainda podem estar distribuídas de formas diferentes no genoma. |
Embora ainda não tenha sido atribuída a estas seqüências repetitivas uma função, elas são os maiores constituintes do genoma. Além disso, como estas seqüências repetitivas apresentam padrões espécie-específicas de distribuição, acreditamos que elas possuem um papel importante durante a origem das espécies. Entretanto, atribuir papel a algo que não possui uma função conhecida não é tarefa fácil. É necessário um sistema modelo que permita observar todas as nossas incógnitas isoladamente. Para tal tarefa o nosso grupo tem trabalhado com espécies do gênero Crotalaria que pertence à família Leguminosae, sub-família Papilionoideae (ou Fabaceae). Este gênero tem origem na região sudeste da África, com centros de diversidade na Ámerica e Índia, além disso, muito das mais de 600 espécies descritas convivem no mesmo habitat, sendo que em algumas regiões das África podem ser encontradas mais de 20 espécies em um metro quadrado e sem que haja a ocorrência de híbridos naturais. O gênero apresenta grande importância econômica tanto para o uso agrícola, bem como para o industrial e farmaceutico devido ao seu rico metabolismo secundário.
Ainda, o gênero apresenta número de cromossomos pequeno, com número básico de x=8, com alguns variantes para x=7, e poliplóides com 2x=16 ocorrendo apenas na América. Portanto, a maior diferença entre as espécies do ponto de vista citogenético é quanto a forma e o tamanho dos cromossomos. O primeiro sendo muito afetado pelas alterações cromossômicos e o segundo pelas seqüências repetitivas. Nosso grupo tem estudado toda a variabilidade cariotípica deste gênero e tem procurado isolar caracterizar e mapear as seqüências repetitivas nos cromossomos, tentando desvendar como elas estão distribuídas e qual seria a sua contribuição no processo de especiação do gênero. |
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Mas isso não é tudo, para se desvendar todo este processo é necessário rever nossos paradigmas e estar constantemente discutindo o conceito de espécie e se perguntando "O que é uma espécie?". E neste ponto temos feitos estudos teóricos sobre a base do conceito de espécie, tanto do ponto de vista filosófico, como do empírico, revendo todos os grandes autores da biologia, evolução e genética. Este é o nosso grande tema. O grupo ainda conta com a colaboração de um grupo de botânica sistemática que nos ajuda na classificação e discussão sobre a ecologia, biogeografia e evolução do grupo, além disso temos concentrado grandes esforços na coleta, conservação destas espécies em parceria com outros grupos. Estamos avançando nas técnicas moleculares, tanto em nosso laboratório, como em parceria com outros grupos de pesquisa e estamos sempre abertos a todos aqueles que de alguma forma querem colaborar para a elucidação destas questões.
M. Mondin
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